sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Depressão na Melhor Idade

A depressão é um problema de saúde pública e sua prevalência aumenta na velhiçe.
Desafortunadamente, também é neste período que os sintomas depressivos mais comumente passam despercebidos e são mascarados por outros problemas que afetam os idosos.

O envelhecimento pode ser conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há alterações morfológicas, funcionais, e bioquímicas que vão alterando progressivamente o organismo, tornando-o mais suscetível às agressões intrínsecas e extrínsecas. O envelhecimento é um processo irreversível, que se inscreve no tempo entre o nascimento e a morte do indivíduo. Neste sentido, é durante a vida inteira que envelhecemos.Portanto, o envelhecimento, enquanto processo, concerne a todos, em qualquer idade. Isto é, não é só o velho que envelhece.

No processo do envelhecimento é possível observar mudanças no desempenho cognitivo. As capacidades cognitivas tendem a declinar mais lentamente e em menor grau do que as capacidades físicas, não sendo necessário acarretar algum prejuízo na vida deste idoso.
Entre as funções cognitivas que se observa mais alteração encontra-se a memória, a inteligência, a atenção, a concentração. A memória é a função que mais sofre prejuízo, mesmo não tendo associação com alguma demência ou outras patologias associadas.

Não há duvida que de com o avançar da idade vão ocorrendo alterações estruturais e funcionais, que embora variem de um indivíduo a outro, são encontradas em todos os idosos e são próprias do processo de envelhecimento normal. Não é sempre fácil estabelecer os limites entre senescência (Processo natural de envelhecimento ao nível celular ou o conjunto de fenômenos associados a este processo) e senilidade (é uma doença, também conhecida como demência, onde o idoso (às vezes acomete adultos jovens) perde a capacidade de memorizar, prestar atenção, não consegue mais se orientar, fala sem nexo, vai limitando sua vida ao leito, e chega a perder o controle de urinar e defecar.
Só 5% dos velhos padecem de senilidade), ou seja, entre modificações peculiares do envelhecimento e as decorrentes de processos mórbidos mais comuns em idosos. Isto se deve, por um lado, à grande variabilidade de comportamento individual perante a idade e, de outro, ao fato de as pessoas da terceira idade amiúde não se apresentarem com quadros floridos, isto é, com as manifestações clássicas observáveis em indivíduos jovens. Com o avanço dos anos, deparamo-nos com uma série de perdas significativas: o surgimento das doenças crônicas deteriorando a saúde, a viuvez, morte de amigos e parentes próximos, ausência de papéis sociais valorizados, isolamento crescente, dificuldades decorrentes da aposentadoria.
Todas estas perdas e dificuldades que acompanham o processo de envelhecimento podem gerar sofrimento intenso para o idoso. Esse sofrimento pode resultar no aparecimento de quadros depressivos e sintomas somáticos.
A sintomatologia somática pode ser o sinal mais comum de um distúrbio afetivo em pessoas idosas. Os distúrbios do sono, em especial, parecem ser um dos primeiros sinais da depressão. Outros sinais “vegetativos” podem incluir a fadiga, a perda da libido e alterações do peso. As queixas gastrintestinais, especialmente a constipação, são também comuns. As preocupações somáticas, por exemplo, várias queixas vagas de desconforto físico ou dor podem não estar relacionadas a causas físicas. Este excesso de preocupação com o corpo pode explicar por que as pessoas idosas depressivas são freqüentemente vistas inicialmente por médicos não psiquiatras, fornecendo tratamento primário não especializado.
Nos idosos, os distúrbios psíquicos de maior incidência são as síndromes depressivas e demenciais. Todo o ser humano em qualquer fase de sua vida pode experimentar sintomas depressivos.

Geralmente a depressão é subestimada tanto pelos profissionais da saúde e familiares, quanto pelo próprio paciente. A depressão da velhice está associada com uma perda da auto-estima, que resulta da incapacidade do idoso de satisfazer necessidades ou impulsos ou de defender-se contra ameaças à sua segurança. Em se tratando da sociedade, existem idéias sedimentadas de que a depressão no idoso pode ser decorrente do próprio processo de envelhecimento. A importância de seu reconhecimento é que ao estabelecer a terapia indicada, devolvemos ao indivíduo à capacidade de amar, pensar, interagir e cuidar de pessoas, trabalhar, sentir-se gratificado e assumir responsabilidades.

Considerar o processo de envelhecimento como um processo de desenvolvimento, que exige aprendizagem, adaptação, participação e, eventualmente, ajuda, é encarar a vida de forma construtiva, fazendo face aos problemas que vão surgindo, preservando e promovendo a autonomia possível, não somando apenas as perdas e as dimensões de capacidades físicas ou intelectuais, mas dinamizando ao máximo os aspectos positivos.
Partindo da concepção de que uma vida com mais qualidade incorpora um estilo de vida mais ativo, mais do que nunca se busca mudar os fatores que prejudicam a saúde através de um estilo de vida mais saudável. É o estilo de vida adotado que vai contribuir para um envelhecimento bem sucedido. O envelhecimento saudável pode ser resultante de fatores físicos, psíquicos, sociais, espirituais e de trabalho entre outros, que exigem estar atento a diferentes possibilidades de tomada de decisão que possam ajudar a promover o auto cuidado, a auto-estima e a relação com os outros. Costumam conservar melhor as funções físicas aquelas pessoas que tenham feito trabalho físico ou praticando esportes. Da mesma maneira, os indivíduos que tenham realizado trabalho intelectual tendem a manter mais suas funções mentais. Ou seja, a atividade física e psíquica é de vital importância, na hora de valorizar o estado em que se chega a uma idade avançada.

A velhice não é um problema em si mesmo, o medo de envelhecer, isto sim, faz da velhice um problema. Este medo de envelhecer é uma forma de ansiedade que persegue cada vez mais um número maior de pessoas em nossa sociedade, criando uma grave repercussão para a saúde. É impossível anular as mudanças físicas fundamentais da velhice, mas muita coisa pode ser feita para preparar as condições de vida de pessoas idosas, de modo que tenham um envelhecimento bem sucedido. Além do receio de tanta senilidade e decrepitude, as pessoas não aceitam o envelhecimento devido, também, a falta de uma razão de ser da velhice, falta de um sentido para a sua existência, por não encontrarem um papel para si mesmo na sociedade. Uma forte razão para esta recusa pode ser a imagem negativa e pejorativa associada ao velho/velhice. Velho é traste, ônus, inutilidade; velhice é doença, incapacidade, dependência. Velho é a pessoa que atrapalha alguém que perdeu o direito à dignidade, à sobrevivência, à cidadania.

O crescimento proporcional do número de idosos e o novo desenho epidemiológico observado na população brasileira estão sendo acompanhados pelo aumento das demandas por ações específicas destinadas a esse segmento populacional. Neste contexto estão inseridos diversos profissionais que se dedicam ao estudo e à atenção aos idosos, sendo esta equipe interprofissional uma condição imprescindível na atenção gerontológica. O terapeuta ocupacional é um dos profissionais da saúde que compõe esta equipe.

De um modo geral, é função do Terapeuta Ocupacional restabelecer as perdas físicas, mentais e sociais, que causam desajuste no idoso. Quando se pensa em atendimento ao idoso, os elementos independência, saúde, segurança e integração social ocupam lugar de destaque, uma vez que estes sofrem modificações significativas.

Na atuação com o idoso, o terapeuta ocupacional age como um facilitador que capacita o mesmo a fazer o melhor uso possível das capacidades remanescentes, a tomar suas próprias decisões e lhe assegurar uma conscientização de alternativas realísticas.

Através do estímulo ao autoconhecimento e ao auto-cuidado, gerando uma melhoria na auto-estima, o idoso tem condições de lidar com seus potenciais e a partir daí construir uma maneira própria de se relacionar com o meio social, atuando nele mais autonomamente. Basicamente, procura-se que o idoso tenha um desempenho mais independente possível, enfatizando as áreas de auto-cuidado, do trabalho remunerado ou não, do lazer, da manutenção de seus direitos e papéis sociais.

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